Será que a competição é a mesma em todos os sentidos e ocasiões? Depende do assunto em questão, embora a essência da mensagem seja a mesma; ou seja, alguém se dá bem enquanto outro fica no prejuízo. É bom lembrar que a nomenclatura ecológica tem uma proximidade muito grande com as linguagens utilizadas pela economia e pela física, utilizando termos como: taxas de crescimento, desenvolvimento, recursos, entre outros. Isso demonstra um pensamento cartesiano como foi claramente expresso por Capra em “O Ponto de Mutação”.
Essa característica deixou a ciência limitada pela sua própria linguagem, além de antropocêntrica, seu limite vai além, pois é estipulada pelos cinco sentidos que o homem faz uso, devido ao seu aspecto materialista mecanicista. E este cerco é estendido para as outras relações com o restante dos organismos, com os quais compartilhamos e convivemos no planeta.
Então, a competição é vista nas relações ecológicas com a mesma agressividade e outras características próprias da humanidade, com seus valores emocionais. Essa característica não permite uma leitura clara dos processos, será sempre um modelo impreciso e obscuro. Justifico isso, exemplificando que o nosso espectro visual é bastante limitado comparado ao das abelhas, então carecemos de informações visuais que são nítidas para uma abelha, pois se processássemos as imagens com esse amplo espectro a nossa linguagem seria totalmente diferente e mais precisa do que essa que utilizamos.
A competição é vista como uma relação entre duas espécies ou indivíduos, na qual um dos elementos fica no prejuízo. Ela está nas nossas vidas desde a tenra idade. Nossos pais tão familiarizados com a competição nos ensinaram que temos que vencer na vida. Ou seja, temos que vencer em cima de alguém, algo que justificou o capitalismo selvagem tão criticado nos anos 80 e 90. E com o aumento populacional, vencer a cada dia passou a ser uma obrigação de cada indivíduo.
Nossa educação também é baseada na competição, a partir dos jogos que nos acompanham desde o maternal, passando pelas notas que devem ser as melhores; até atingir o ápice na idade produtiva, onde devemos ter mais e ser mais do que os outros, às vezes não importando os meios para isso.
Como seria, se ao invés de incentivarmos a competição, incentivássemos a colaboração, o fazer juntos, atingindo metas propostas por uma coletividade? Acho que o sentimento presente seria o de liberdade, pois a expressão seria livre e bem acolhida. A aproximação entre as pessoas faria com que elas desenvolvessem o sentimento de fraternidade. Associando a liberdade com a fraternidade, uma prática se faz necessária de forma natural, o respeito para com o próximo, traduzido na lei natural de fazer ao outro o que gostariam que fizessem com você, tão presente na oração franciscana, traduzindo em um terceiro sentimento, o de igualdade.
terça-feira, 15 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Passeio Fluminense
Quando caminhamos por uma cidade recém conhecida, procuramos fixar olhar em monumentos, casas, ruas e estabelecimentos comerciais que nos garantam um referencial. A partir desses, outros referenciais vão sendo fixados em nossa mente, construindo uma impressão que irá facilitar a identificação do local, aumentando a nossa segurança interiorHábito muito comum, nessa ocasião, olhar para um lado verificando se realmente reconhecemos os referenciais que se apresentam. Ao constatarmos que nenhum deles é familiar, a insegurança vai se apoderando dos sentidos, e quanto mais tempo caminhamos sem notar nenhum referencial conhecido, aumenta-se a certeza de estarmos perdidos, e a necessidade de alguma informação que nos oriente em determinado sentido.Interessante notar que a palavra sentido possui sentidos distintos. Recorrendo ao Aurélio, um referencial da nossa língua culta, podemos verificar que sentido possui dezoito significados, sendo quatro adjetivos, doze substantivos e duas interjeições. Até agora, nesse texto utilizei o termo cinco vezes, como substantivos; poderia também utilizá-la como adjetivo, por exemplo, expressando como ando sentido com a situação do país. Ou em uma interjeição. Sentido! Clamando por cautela. Talvez o caro leitor pense que me perdi em meus pensamentos, venho-lhe assegurar que não! Apenas mais um exemplo de que podemos também caminhar por linhas corridas, no espaço branco do papel, sem perder o referencial e a importância de conhecê-los para seguirmos nossos caminhos, seja na escrita ou no espaço determinado pela geografia física.Isso me conduz a importância dos nossos geógrafos, como Aziz Ab’Saber, que passeia tranquilamente pela geografia física ou social sem se preocupar onde uma começa e a outra termina, visto que mais do que a discussão dos teóricos, o trabalho a se fazer é longo e urgente.Não podemos nos esquecer que os naturalistas, cronistas, viajantes e geógrafos; contribuíram com muitas informações a respeito do nosso país, semeando as primeiras informações sobre o tema. Na nossa região destacamos o trabalho de um grande geógrafo: Alberto Ribeiro Lamego, autor dos clássicos: “O homem e o Brejo”, “O Homem e a Restinga”, “Homem e a Guanabara” e “O Homem e a Serra”. No primeiro ele discorre sobre as regiões da planície goitacá, freqüentemente alagada, com seus brejos e lagoas, compreendendo desde as imediações do rio Itabapoana até o rio Macaé, englobando o complexo rio Paraíba do Sul-Lagoa Feia e seus canais. Ele também narra a história das construções dos canais desde o período colonial, quando os brejos foram drenados com o intuito de abrir terreno para agricultura e saneamento. Saneamentos porque era considerado foco de doenças, infelizmente, mentalidade viva ainda nos dias de hoje. Os terrenos mais baixos eram drenados, enquanto os mais altos e secos serviam ao transporte.No livro “O Homem e a Guanabara”, Lamego descreve a geologia de lugares bem conhecidos, como o Pão de Açúcar, Pedra da Gávea e o morro Dona Marta, permitindo que qualquer pessoa faça as mesmas observações, nem sempre com segurança, mas bem acessíveis. Os jovens poderão aprender com seu “olhar”, descortinando conhecimentos completamente ignorados.Em “O homem e a Serra”, Lamego descreve a região do Vale do Paraíba, outrora de grande pujança, alimentada pelo “Ciclo do Café”, hoje em completa decadência, principalmente devido ao não cuidado com a terra e a exaustão do solo.O leitor pode pensar que cometi um deslize deixando para comentar “O homem e a Restinga” por último. Propositadamente que faço isso, pois nesse ele trata da nossa região, caracterizando toda faixa litorânea do norte do estado até nas proximidades de Maricá, Rio Bonito e Silva Jardim, pegando toda região dos lagos. Ele ressalta a diminuição que ocorre na largura da planície de Macaé até Búzios, reduzida a poucos quilômetros, e, por trás dela esparramam-se imensos tremedais (pântanos, às vezes em caráter depreciativo) marginalmente aos cursos d’água. Hoje muitos se encontram aterrados, e pelas características essas áreas alagadas eram berçários para peixes.Ele descreve a situação ambiental de Cabo Frio, Macaé e Rio das Ostras da época, criando um referencial no tempo além do espaço, combinando história a geografia e convidando o leitor para passear pela região, mas ao invés de se perder, esse irá se redescobrindo a cada momento e reconhecendo a paisagem onde moramos, com os referenciais impressos na alma.Vitor de Souza FerreiraBiólogo, Ecólogo e Ambientalistaferreiravs@hotmail.com
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