segunda-feira, 7 de julho de 2008
Passeio Fluminense
Quando caminhamos por uma cidade recém conhecida, procuramos fixar olhar em monumentos, casas, ruas e estabelecimentos comerciais que nos garantam um referencial. A partir desses, outros referenciais vão sendo fixados em nossa mente, construindo uma impressão que irá facilitar a identificação do local, aumentando a nossa segurança interiorHábito muito comum, nessa ocasião, olhar para um lado verificando se realmente reconhecemos os referenciais que se apresentam. Ao constatarmos que nenhum deles é familiar, a insegurança vai se apoderando dos sentidos, e quanto mais tempo caminhamos sem notar nenhum referencial conhecido, aumenta-se a certeza de estarmos perdidos, e a necessidade de alguma informação que nos oriente em determinado sentido.Interessante notar que a palavra sentido possui sentidos distintos. Recorrendo ao Aurélio, um referencial da nossa língua culta, podemos verificar que sentido possui dezoito significados, sendo quatro adjetivos, doze substantivos e duas interjeições. Até agora, nesse texto utilizei o termo cinco vezes, como substantivos; poderia também utilizá-la como adjetivo, por exemplo, expressando como ando sentido com a situação do país. Ou em uma interjeição. Sentido! Clamando por cautela. Talvez o caro leitor pense que me perdi em meus pensamentos, venho-lhe assegurar que não! Apenas mais um exemplo de que podemos também caminhar por linhas corridas, no espaço branco do papel, sem perder o referencial e a importância de conhecê-los para seguirmos nossos caminhos, seja na escrita ou no espaço determinado pela geografia física.Isso me conduz a importância dos nossos geógrafos, como Aziz Ab’Saber, que passeia tranquilamente pela geografia física ou social sem se preocupar onde uma começa e a outra termina, visto que mais do que a discussão dos teóricos, o trabalho a se fazer é longo e urgente.Não podemos nos esquecer que os naturalistas, cronistas, viajantes e geógrafos; contribuíram com muitas informações a respeito do nosso país, semeando as primeiras informações sobre o tema. Na nossa região destacamos o trabalho de um grande geógrafo: Alberto Ribeiro Lamego, autor dos clássicos: “O homem e o Brejo”, “O Homem e a Restinga”, “Homem e a Guanabara” e “O Homem e a Serra”. No primeiro ele discorre sobre as regiões da planície goitacá, freqüentemente alagada, com seus brejos e lagoas, compreendendo desde as imediações do rio Itabapoana até o rio Macaé, englobando o complexo rio Paraíba do Sul-Lagoa Feia e seus canais. Ele também narra a história das construções dos canais desde o período colonial, quando os brejos foram drenados com o intuito de abrir terreno para agricultura e saneamento. Saneamentos porque era considerado foco de doenças, infelizmente, mentalidade viva ainda nos dias de hoje. Os terrenos mais baixos eram drenados, enquanto os mais altos e secos serviam ao transporte.No livro “O Homem e a Guanabara”, Lamego descreve a geologia de lugares bem conhecidos, como o Pão de Açúcar, Pedra da Gávea e o morro Dona Marta, permitindo que qualquer pessoa faça as mesmas observações, nem sempre com segurança, mas bem acessíveis. Os jovens poderão aprender com seu “olhar”, descortinando conhecimentos completamente ignorados.Em “O homem e a Serra”, Lamego descreve a região do Vale do Paraíba, outrora de grande pujança, alimentada pelo “Ciclo do Café”, hoje em completa decadência, principalmente devido ao não cuidado com a terra e a exaustão do solo.O leitor pode pensar que cometi um deslize deixando para comentar “O homem e a Restinga” por último. Propositadamente que faço isso, pois nesse ele trata da nossa região, caracterizando toda faixa litorânea do norte do estado até nas proximidades de Maricá, Rio Bonito e Silva Jardim, pegando toda região dos lagos. Ele ressalta a diminuição que ocorre na largura da planície de Macaé até Búzios, reduzida a poucos quilômetros, e, por trás dela esparramam-se imensos tremedais (pântanos, às vezes em caráter depreciativo) marginalmente aos cursos d’água. Hoje muitos se encontram aterrados, e pelas características essas áreas alagadas eram berçários para peixes.Ele descreve a situação ambiental de Cabo Frio, Macaé e Rio das Ostras da época, criando um referencial no tempo além do espaço, combinando história a geografia e convidando o leitor para passear pela região, mas ao invés de se perder, esse irá se redescobrindo a cada momento e reconhecendo a paisagem onde moramos, com os referenciais impressos na alma.Vitor de Souza FerreiraBiólogo, Ecólogo e Ambientalistaferreiravs@hotmail.com
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